Michelle Louise Kormann – Graduanda em Biomedicina, ICB
Silvia Barreiros dos Reis – Bioarqueóloga, Departamento de Antropologia, Museu Nacional
Adilson Dias Salles – Professor Adjunto, Departamento de Antropologia, Museu Nacional
Claudia Rodrigues Carvalho – Professora Adjunta, Departamento de Antropologia, Museu Nacional

 

“O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações” (FREIRE, 2006:3). 

Desde 2009, o Setor de Antropologia Biológica do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem desenvolvendo estratégias para divulgar os saberes produzidos na Academia, para o público geral, em Feiras de Ciências e Escolas Municipais, envolvendo temas associados às populações pré-coloniais brasileiras. Este processo vem despertando um interesse crescente e, assim, formalizamos essas interações na criação do projeto de extensão “Ciência até os Ossos”, com o apoio da FAPERJ.

Figura3 Figura4

Ciência até os Ossos
Oficina e atividades de Bioantropologia e Bioarqueologia na Feira de Ciências do 193ᵒ Aniversário do Museu Nacional, 2011

OSTEOBIOGRAFIA: RECUPERANDO A HISTÓRIA REGISTRADA NOS OSSOS
Oficina ministrada na 6ª Semana de Biologia da Universidade Federal Fluminense, 2012


O projeto “Ciência até os Ossos”, desenvolvido por uma equipe do Setor de Antropologia Biológica, envolve Professores/Pesquisadores, Técnicos, Alunos de Graduação e de Pós-Graduação e Estudantes do Ensino Médio do Colégio Pedro II (Programa de Iniciação Científica Júnior). Este projeto propõe a divulgação e a popularização do conhecimento científico antropológico, não apenas em um contexto biológico (estudos de ossos e dentes), mas, envolvendo essa análise nas relações sociais, nos diversos contextos culturais e, considerando, ainda a influência das características geográficas das áreas de habitação e de exploração. Dentro desse conceito de Ecologia Humana, despertamos a consciência da necessidade de preservação do patrimônio cultural.

Figura1Inicialmente o projeto contou com a saída do espaço tradicional de ensino de ciências como os laboratórios e instituições de pesquisa, para exposições que promoviam a interação expositor e público, por meio da apresentação de pôsteres. Em seguida, sentiu-se a necessidade do desenvolvimento de novas atividades que atraíssem a atenção do público, surgindo à abordagem do potencial informativo dos ossos e com ele a criação de caixas de escavação (a questão funerária) e a exposição de osteobiografia (ossos como testemunha). A primeira tinha como objetivo desenvolver temas como a morte e práticas funerárias, a segunda, analisar o potencial informativo dos ossos e dos dentes para o estudo de um indivíduo no âmbito do dimorfismo sexual, idade, doenças, lesões e a relação destas constatações com o papel daquele indivíduo na sociedade em que vivia. Essas propostas eram baseadas na abordagem de Vygotsky, que apregoa a postura ativa do indivíduo gerando uma interação com o meio, podendo acarretar em alterações qualitativas ao longo do seu desenvolvimento (Reis et al., 2010).

A equipe do Projeto “Ciência até os Ossos” participa de eventos como Aniversário do Museu Nacional e a Semana de Ciência e Tecnologia, que possuem um público de cerca de 30 mil visitantes, sendo este um grande palco para a divulgação. Realizamos, ainda, quatro Oficinas em Escolas das redes pública e privada. Esse processo de interação vem revelando alguns equívocos no entendimento sobre os humanos e a sua cultura, mediados, em grande parte, por desvios de rumo no método científico, veiculados em filmes e documentários no cinema e na televisão.

Uma das nossas preocupações tem sido reduzir o nível de distanciamento com que o público, em geral, trata os povos do passado.Figura2 Resolvemos, assim, estimular certa familiarização entre as populações pretéritas e o nosso próprio estilo de vida e as nossas necessidades atuais, criando, assim, um vínculo com a vida no passado. Alguns resultados dessa interação foram apresentados e discutidos na Semana de Integração Acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2009, e em congressos internacionais, como no II Congreso Iberoamericano de Antropología, em Havana (Reis et al., 2011).

Além da interação direta, tomamos a iniciativa, em 2012, de utilizar as redes sociais nesse processo, devido ao grande poder de divulgação, propagação de uma informação a longas distâncias de forma rápida, sem a necessidade presencial e do acontecimento de um evento, deixando de estar limitada a estes para ocorrer ao longo de todo o ano, como uma forma de complementar e manter a divulgação iniciada nos eventos. Assim, nosso Projeto abriu um espaço nos cenários nacional e no exterior, face às consultas oriundas da Itália, dos Estados Unidos e do Chile, comprovando o grande alcance desse meio virtual.

No ambiente virtual, nosso objetivo é aumentar o tipo de interação com o público, criando um link para o site do Projeto “Ciência até os Ossos”, ainda em construção, e que contará com jogos, atividades lúdicas, informações sobre a área de estudo e a divulgação de eventos relacionados.

Ganhamos mais um incentivo da FAPERJ, em 2012, graças à aprovação do “Projeto Divulgação Científica em Bioarqueologia e Bioantropologia: Entre Múmias e Ritos Funerários, a Ciência até os Ossos”, por meio do qual pretendemos abrir discussões sobre novas questões e experiências de interesse do público.

Referências

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. 13º Edição. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

REIS, Silvia; BASTOS, Murilo; SALLES, Adilson Dias; RODRIGUES-CARVALHO, Claudia. Projeto ciência até os ossos: primeiras atividades e desafios. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v.15, n.2, p.111-120, 2010.

REIS, Silvia; SALLES, Adilson Dias; SILVA, Elizabeth; RODRIGUES-CARVALHO, Claudia. Divulgação Científica em Antropologia Biológica: O Projeto Ciência até Ossos. Anais do II Congreso Iberoamericano de Antropología XI Simposio de Antropología Física "Luis Montané", VII Congreso Primates como Patrimonio Nacional, IV Coloquio Primates através del Caribe, IV Coloquio de Antropología "Manuel Rivero de la Calle", La Habana, Cuba, v.1, n.1, p. 2922-2927, 2011.